Estudo aponta ramificações criminosas ligadas ao desmatamento em 24 dos 27 estados brasileiros
Instituto Igarapé constatou que nesses 24 estados, são comuns práticas como o roubo de madeira, o garimpo e a grilagem de terras
Em 24 dos 27 estados brasileiros existem ramificações ligadas ao desmatamento como motor impulsionador de atividades econômicas ilegais na Amazônia. Um estudo feito pelo Instituto Igarapé constatou que, exceto em Alagoas, Paraíba e Pernambuco, nos demais estados, práticas como o roubo de madeira, o garimpo (principalmente de ouro) e a grilagem de terras públicas, estão diretamente conectadas a crimes que se espalham por todo o país, entre eles sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, corrupção, associação criminosa, estelionato e tráfico de animais silvestres.
O levantamento mostrou que um total de 254 municípios brasileiros e oito cidades da América do Sul integram essa teia de negócios ilícitos que contribui direta e indiretamente para a degradação da maior floresta tropical do mundo.
O estado do Pará é líder com mais registros no mapeamento, com 161 localidades em 46 municípios envolvidos.
Na sequência estão Rondônia (122 localidades em 29 municípios) e Amapá (101 localidades em 10 municípios). Fora da região, o destaque é o estado de São Paulo (36 localidades), seguido de Paraná (14) e Goiás (10).
O estudo analisou informações geradas por mais de 300 operações da Polícia Federal (PF), realizadas entre 2016 e 2021 na região, pesquisadores constataram que a economia ilegal da madeira é a que está mais espalhada pelo país. São 23 estados e 166 municípios conectados.
Quando se trata de garimpo, 125 cidades de 20 estados brasileiros aparecem nos registros. Além de crimes ambientais, essa cadeia que se vincula, principalmente, à extração de ouro, está associada a outras ilegalidades como fraude, sonegação de impostos e lavagem de dinheiro.
As Terras Indígenas (TIs) foram alguns dos principais alvos das ilegalidades praticadas por organizações criminosas com atividades ilegais especialmente garimpo e extração de madeira. O estado de Roraima, com 26 registros, seguida das TIs Munduruku, no Pará, e Sete de Setembro, em Rondônia, com oito, cada, são os primeiros desse ranking. Investigações envolvendo algum tipo de violência foram mapeadas em 19 TIs da região.
O estudo denominado “Mapeando o crime ambiental na Bacia Amazônica”, integra o Programa de Segurança Climática da instituição, explica Melina Risso, diretora de Pesquisa do Instituto Igarapé.
De acordo com ela, a proposta é ir além das fronteiras brasileiras para compreender como opera o que denominam de “ecossistema dos crimes ambientais” e apresentar recomendações de enfrentamento dessas interconexões entre redes e organizações.
Para Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira, secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o relatório expressa o cenário preocupante de violência contra os povos indígenas e seus territórios na Amazônia, com o agravamento das situações. “Os discursos dos governantes e os projetos de lei anunciados como prioritários no Congresso incentivam as invasões às Terras Indígenas que estão à mercê de milícias armadas”, alerta.
Como exemplo, ele cita o PL 191/2020, que propõe a abertura de TIs a projetos de mineração, dentre outras atividades incompatíveis com a salvaguarda do patrimônio natural e cultural de seus povos.