Manaus ganha nova base fluvial para dar suporte ao controle de endemias nas comunidades ribeirinhas
Na região, vivem aproximadamente 8 mil pessoas expostas ao risco de doenças endêmicas, especialmente a malária, prevalentes em áreas de rio e floresta
A Base Fluvial de Endemias Enfermeiro Adenilson dos Santos Torres, inaugurada nesta quinta-feira (16/5), pela prefeitura de Manaus, ficará atracada na marina do Davi, na zona Oeste, para dar suporte ao trabalho de controle de endemias realizado pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) nas 74 comunidades, lagos e igarapés distribuídos em mais de 200 quilômetros das calhas dos rios Negro e Amazonas, nos limites da capital.
Na região, vivem aproximadamente 8 mil pessoas expostas ao risco de doenças endêmicas, especialmente a malária, prevalentes em áreas de rio e floresta.
A nova base substitui a antiga estrutura, já sem capacidade de funcionamento adequado, e vai garantir o fortalecimento das atividades de vigilância em saúde na área fluvial em condições de conforto e segurança para os agentes de saúde e servidores de funções administrativas e operacionais.
A unidade tem 392 metros quadrados sobre uma plataforma própria e passa a ser uma referência para o Brasil. Construída com recursos próprios do município, no valor de 2 milhões de reais, a nova base flutuante conta com ambientes destinados às atividades administrativas, de controle fluvial e de controle de endemias, divididos entre recepção, copa, depósito de material de limpeza, escritório, dois almoxarifados, duas salas administrativas e um laboratório.
A unidade fluvial vai funcionar como marina para 11 embarcações utilizadas pelos agentes da Semsa nas viagens às comunidades da região assistida, onde são realizados os trabalhos de prevenção e tratamento de endemias, incluindo busca ativa de pessoas infectadas, coleta de lâmina para diagnóstico e entrega e supervisão de medicamentos.
O diretor do Distrito de Saúde (Disa) Rural, Rubens Souza, destacou que a saúde pública rural tem desafios extras, como as longas distâncias, as cheias e vazantes, e as condições naturais e demográficas que dificultam a ida dos agentes até os usuários.
Assim como os servidores, a comunidade atendida pela Semsa também será beneficiada com a inauguração do novo espaço. A líder da comunidade Jefferson Peres, localizada no lago Tarumã-Açu, Valdeilza Lopes, citou as dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde para alcançar os pacientes e disse que base recém-inaugurada “é um sonho realizado”, e representa um avanço no dia a dia dos agentes que visitam as comunidades do entorno. “A palavra é gratidão”.
Para o coordenador do Centro Cultural União dos Povos Indígenas do Tarumã, cacique Astério Baré, que também esteve na inauguração da nova estrutura, gratidão também é o sentimento. “Em nome do povo indígena e do povo branco, queremos agradecer ao prefeito e às equipes que fazem esse trabalho com seriedade por mais essa história, por mais essa página que está sendo virada no município de Manaus. Isso é inédito”.
Alcance
O trabalho de controle de endemias na área fluvial é feito nas calhas dos rios Negro e Amazonas, nos limites do município de Manaus. No Rio Amazonas, são atendidas 34 comunidades, lagos e igarapés distribuídos em 120 quilômetros de extensão – entre a Marina do Davi e o lago do Arumã -, onde reside uma população de 4.380 pessoas.
Já no Rio Negro, são 40 localidades entre a Marina do Davi a Comunidade do Apuaú, reunindo uma população de 3.768 pessoas em 115 quilômetros de extensão.
Levantamento do Disa Rural junto ao Sistema Sivep-Malária aponta que as comunidades mais afetadas pela doença na área fluvial de Manaus são a Nossa Senhora de Fátima, a Nossa Senhora do Livramento e a Nossa Senhora Auxiliadora, todas as margens do Rio Negro e seus afluentes.
A Unidade Básica de Saúde Rural (UBSR) Nossa Senhora de Fátima registrou 839 casos de malária em 2023, a UBSR Nossa Senhora Auxiliadora, 120 casos, e a UBSR Nossa Senhora do Livramento, 58 casos.
Além de malária, os agentes de saúde realizam busca ativa e coleta de lâmina para diagnóstico de outras endemias como leishmaniose, filariose e Doença de Chagas, que os microscopistas da equipe também estão preparados para identificar.
Homenagem
Adenilson dos Santos Torres, que dá nome à Base Fluvial de Endemias, era enfermeiro especializado em Administração Hospitalar que, na Semsa, contribuiu para a consolidação do Distrito de Saúde Rural. Desde 2006, ele atuou no fortalecimento do trabalho das equipes de saúde, na organização do processo de territorialização da área rural de Manaus, tendo sido também diretor de unidades de saúde terrestres e fluviais.
Familiares do enfermeiro, que faleceu de covid-19 em 2021, participaram da cerimônia de inauguração. Emocionada, a viúva Glaucijan Aguiar Ibiapina, disse que a homenagem é a maior prova do reconhecimento do trabalho realizado por Adenilson e do que ele foi como pessoa, como profissional e como amigo. “Ele deu o melhor dele aqui”.
Também muito emocionada, a mãe de Adenilson, Maria Raimunda dos Santos Torres, agradeceu a homenagem em nome do filho, a todos os que trabalharam com ele e aos gestores que permitiram eternizar seu nome. “É um prestígio que meu filho merecia”.
Fotos – Artur Barbosa / Semsa